Esta pergunta é cada vez mais necessária nos dias que correm.

Esta pergunta é cada vez mais necessária nos dias que correm.
Há uma imensa quantidade de pessoas se auto-agredindo (depressão, mutilação, suicídio etc) simplesmente porque não têm com quem compartilhar a sua dor, as suas angústias, os seus desconfortos.
Rubens Alves, célebre escritor brasileiro, costumava dizer que as pessoas querem fazer curso de oratória para se expressar com mais desenvoltura. Porém, bem poucos são os que se matriculariam em um curso de escutatória, para aprender a escutar melhor.
Muitos querem ser ouvidos, poucos querem ouvir e, menos ainda, escutar.
Bem, de logo, cumpre-nos questionar: ouvir é o mesmo que escutar?
Através de nossas leituras, aprendi que ouvir é perceber informações, ao passo que escutar é perceber aquele que emite tais informações.
É algo parecido com a distinção que Martin Bubber, filósofo e psiquiatra austríaco, faz no relacionamento humano, entre a relação sujeito-sujeito (EU-TU) e a relação sujeito-objeto (EUISSO), quando haveria, ou não, a intersubjetividade, a depender da minha percepção do outro com quem me relaciono. Para ficar mais claro, vale um exemplo, neste momento.
Se eu costumo apanhar as coisas de meu interesse (cartas, contas, encomendas etc.), na portaria do prédio em que moro e sequer sei o nome do porteiro, ou mesmo troco palavras com ele, pouco ou nada sabendo do mesmo, essa relação é EU-ISSO. Do contrário, se sei o nome do porteiro, sua idade, seu esporte favorito, por exemplo, essa relação é EU-TU. Ou por outras palavras, a diferença fundamental está em apenas ouvir e ouvir e escutar.
Quando eu escuto, ouvindo com atenção o outro, posso perceber como ele está, ainda que superficialmente, o que já permitirá um link (ligação) para um auxílio ou um apoio, que se faça necessário.
Muitas vezes, apenas escutar, sem mesmo opinar, já resolve a situação de alguém que precisa desabafar. Uma imagem me ocorre agora, vinda das boas lembranças da casa dos meus queridos pais.
Lembro-me de como era fácil aliviar a pressão interna, que poderia implodir a panela, que esquentava no fogão.
Bastava um simples levantar da válvula, de forma atenta, para que a panela de pressão ganhasse novo tempo de cozimento, sem o perigo da explosão. É, certamente, o que podemos fazer nos dias atuais, sendo a válvula de escape da pressão interna, que encontra espaço na intimidade daqueles que a vida, em seu movimento divino, conduz à nossa convivência, ainda que por breve tempo.

Para finalizar esse breve ponto de vista, transcrevo abaixo, a letra de uma poesia, de nossa inspiração, que já foi transformada em música:

"COMO VOCÊ SE SENTE?
Eu não quero me matar
E nem acabar com a vida
Quero acabar com a dor
Que parece que não termina
Preciso muito de você
Apenas para me escutar
Parar, olhar e me acolher
Quem sabe? A dor aliviar
Quem sabe? Compreender
Quem sabe? Não julgar
Quem sabe? Escolher
Estar junto no caminhar
Ainda dá tempo de mudar
Pra viver sua experiência
De ser amado e de amar
Construir mais resiliência
Como você se sente?
Aonde é que dói mais
Quero ouvir, ser presente
Te ajudar a ser tua paz!"

 

Em conclusão, que tal da próxima vez que encontrar alguém, no seu caminho, tentar escutar e não apenas ouvir. Quem sabe?
Tarde de Sol, em Maceió, 02.01.Alagoas

Por Alonso Filho
(O autor é escritor, poeta, cantor, compositor e exercente do cargo de juiz do trabalho em Alagoas.)