No dia 4 de março de 1918, um soldado da base militar de Fort Riley, nos Estados Unidos, ficou de cama, com sintomas de uma forte gripe. Esse acampamento no Kansas treinava cidadãos americanos para a Primeira Guerra Mundial. Em seguida, naquela semana de março, mais de 200 soldados adoeceram também. Em apenas 14 dias, mais de mil militares foram parar em hospitais — e o mal se alastrou por outros acampamentos.

No dia 4 de março de 1918, um soldado da base militar de Fort Riley, nos Estados Unidos, ficou de cama, com sintomas de uma forte gripe. Esse acampamento no Kansas treinava cidadãos americanos para a Primeira Guerra Mundial. Em seguida, naquela semana de março, mais de 200 soldados adoeceram também. Em apenas 14 dias, mais de mil militares foram parar em hospitais — e o mal se alastrou por outros acampamentos.
No pico da epidemia, mais de 1500 militares reportaram a enfermidade em um único dia. A doença se espalhou rapidamente pelos EUA e pegou carona com os soldados americanos que embarcaram para a Europa. E de lá ganhou o mundo. 
A chamada gripe espanhola — que nada tem de espanhola — matou cerca de 100 milhões de pessoas em 1918 e 1919. Esse número representa mais mortes do que o montante provocado pelas duas grandes guerras mundiais juntas. Mais do que a AIDS causou em 40 anos. Foi e ainda é a maior pandemia de que se tem notícia. E o Brasil não passou ileso por ela. Por aqui, foram cerca de 35 mil óbitos, entre eles o do presidente da época, Rodrigues Alves (1848-1919).
A Espanha, na época era um dos países neutros na Primeira Grande Guerra e a imprensa local podia noticiar livremente, ganhando assim esta malfadada alcunha.
O vírus por trás da pandemia é um velho conhecido: o influenza H1N1. O esforço para manter a epidemia em segredo contribuiu para sua rápida disseminação.
Noventa anos depois, em abril de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava uma nova pandemia de gripe H1N1, na época ainda conhecida como gripe suína. O surto global caracterizou-se por uma variante de gripe suína cujos primeiros casos ocorreram no México, em meados do mês de março.
Em 11 de junho de 2009, a OMS declarou pandemia global – após o número de casos da gripe suína se aproximar de 30 mil. No Brasil, o primeiro paciente foi identificado ainda em maio. A situação ficou mais grave a partir de julho. Em agosto, a crise atingiu seu ápice no país, e o número de mortos passou de 500. 
A Covid-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019) é uma doença infecciosa causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). O SARS-CoV-2 foi identificado pela primeira vez em seres humanos em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China. 
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente no dia 11/03/2020, em Genebra, na Suíça que a Covid-19, doença causada pelo coronavírus, seria a partir de então, caracterizada como uma pandemia.
A taxa de mortalidade do H1N1 foi estimada em 0,026%, ou seja, 26 a cada 100 mil casos. Já a Covid-19 tem uma taxa de mortalidade de 3,7%, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em outras palavras, os infectados pela pandemia atual têm quase 150 vezes mais chance de morrer que as vítimas do H1N1.
O Ministro da Saúde Dr. Luiz Henrique Mandetta declarou em 20/03/2020 que “no final de abril o sistema de saúde entrará em colapso” por causa da pandemia do coronavírus/Covid-19.
Vamos analisar com mais profundidade esta afirmação do Ministro da Saúde... De acordo com o Instituto Trata Brasil, 48% da população não possui coleta de esgoto (fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS), 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada (fonte: SNIS), 59% das escola de ensino fundamental não possuem rede de esgoto (fonte: Censo 2017). 
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi regulamentado em 1990, com a publicação da Lei nº 8.080, completando assim 30 anos. Problemas como falta de médicos e profissionais desqualificados, longo tempo de espera, desperdício de tempo, falta de leitos, gestão financeira ineficiente, corrupção, atendimento pouco humanizado, elevado número de óbitos, emergência deficitária são frequentes em muitas unidades, Brasil afora.
É bem verdade que existem ainda algumas ilhas de excelência, contudo cada vez mais escassas.
Os problemas básicos como saneamento, escolaridade, saúde transcendem qualquer pandemia moderna.

Milhares de brasileiros perdem a vida, todos os dias de forma direta ou indireta pela incapacidade dos gestores públicos tomarem medidas eficientes, visando a solução destas mazelas.
Nosso sistema de saúde está em colapso desde sempre.
Será que o Coronavírus “resolveu” todas as outras doenças? Qual é o plano de ação dos hospitais / unidades de saúde para o tratamento de um paciente que chegará ao pronto-atendimento com hematoma subdural, disfunção de válvula, tumor cerebral, abdome agudo, cólica renal, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, entre outras além de queixas e sintomas compatíveis com síndrome gripal “coronavírus”?
O SUS e os hospitais privados estão se organizando para deixarem alas exclusivas para os pacientes com Covid-19? Como será a logística em áreas comuns, tais como setores de radiologia, UTIs, centros cirúrgicos?
Os profissionais de saúde receberam treinamento e todos possuem equipamento para proteção individual (EPI)? Será??
Apesar de outras pandemias relativamente recentes, tais como o H1N1 os gestores se preocuparam em organizar fluxos de atendimento e contenção de novas epidemias?
Por que neste momento, quando ainda o número de infectados graves nas unidades de saúde não é elevado, os profissionais (médicos e não médicos) continuam nas unidades, com alto risco de se contaminarem? Devem-se planejar e priorizar as ações e reconhecer as especialidades dos profissionais.
Num primeiro momento, devemos priorizar as especialidades que atenderão os pacientes nas unidades de saúde (pronto-atendimento) e UTIs, fornecendo toda a logística necessária a estes profissionais (médicos e não médicos).
Num segundo momento, precisaremos de todos, independentemente da especialidade, para atuarem nos cuidados de enfermarias.
Num país de proporções continentais, com mais de 210 milhões de pessoas, se em torno de 10% da população apresentarem sintomas graves, teremos 21 milhões precisando de atendimento especializado.
Não há meios de vencer uma guerra, se todo o exército se expõe ao inimigo, sem ao menos conhecê-lo.
Qual é o plano do governo para as cidades menores, visto que a pandemia tem transmissão comunitária? Como será o encaminhamento de pacientes graves? Qual é a disponibilidade de profissionais capacitados nestes locais? Quantos respiradores e materiais apropriados para intubação e ventilação existem nos municípios brasileiros? De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 o Brasil possuía 324 municípios com mais de 100 000 habitantes. Quantos estarão preparados para enfrentarem este desafio?
Por que a telemedicina entre as unidades de atendimento não avançou em pleno século XXI? Por que não existe uma plataforma digital única, eficiente entre as unidades do SUS para o compartilhamento de imagens e informações clínicas dos pacientes entre os profissionais de saúde ? Onde estão os “gestores”... Por que não são feitas parcerias com a iniciativa privada?
Antes de batermos palmas para os profissionais de saúde, de forma precoce e midiática devemos ter a consciência de que podemos estar longe da realidade.
O momento é de cada um zelar pelo bem de todos. Assim, teremos alguma chance de minimizar o impacto desta pandemia em nosso país.
As medidas para o controle da pandemia têm sido tomadas em âmbitos nacional, estadual e municipal.
Apesar de esforços isolados dos colegas que bravamente estão à frente de órgãos gestores de saúde, o Brasil precisa de líderes verdadeiros e gestores inteligentes trabalhando em uníssono. Não devemos subestimar nosso inimigo.

Ricardo Santos de Oliveira
Neurocirurgião
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
Doutor e pós-doutor USP
Livre-Docente FMRP USP
Presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica